segunda-feira, 18 de outubro de 2010

António Rodrigues de las Heras na IV Conferência PNL






Antonio Rodríguez de las Heras, Director do Instituto de Cultura e Tecnologia da Universidade Carlos III, Madrid, inaugurou, depois da abertura protocolar, a IV Conferência Internacional do PNL. Na sua exposição, A.R. de las Heras centrou-se nos desajustes entre os novos leitores, os nativos digitais e a leitura/escrita que lhes oferecemos; entre o mundo da tecnologia e um ambiente cultural assente em formas de escrita secular e na página impressa.
Estamos imersos en un entorno sobreinformado, icónico, cinético, abotonado. Y hay que imaginar y ensayar medios para escribir para un lector conformado por este entorno, afirmou o autor. A escrita e o livro são extensões da memória mas essa função não é exclusiva da folha de papel. O suporte digital pode bem responder às necessidades da memória, assim como à função inversa de esquecimento, sem a qual a primeira não é possível. O fundamental, para A.R. de las Heras, está hoje na hipertextualidade e nos novos dispositivos de leitura de que são exemplo os e-books e os ipads.
Mas que formas de hipertextualidade? Vivemos um período de evolução e experimentação em que alguns ensaios serão bem sucedidos, outros nem tanto. Criatividade e imaginação são, por isso, essenciais para encontrar formas de hipertextualidade adequadas aos novos leitores e ao mundo tecnológico.

Textos de António Rodrigues de las Heras aqui

Via RBE

sábado, 16 de outubro de 2010

Homenagem a MATILDE ROSA ARAÚJO na IV Conferência PNL

A IV Conferência Internacional do Plano Nacional de Leitura, realizada a 15 e 16 do corrente mês, decorreu com grande interesse, na Fundação Calouste Gulbenkian. Ao princípio da tarde do primeiro dia de trabalhos, viveu-se um momento elevado e solene, com a homengam que foi prestada à autora Matilde Rosa Araújo. O texto exemplar de Leonor Riscado, professora da Escola Superior de Educação de Coimbra, sobre a autora e a sua obra, a apresentação de textos da autora pelas atrizes Lúcia Maria e Maria Leite e o vídeo que nos lembrou Matilde numa escola, interagindo com alunos, envolveram os presentes na riqueza humana da autora, paralelamente à sua mestria na escrita.

Sobre a sua vida e obra, relembramos o texto recentemente publicado, na edição de Junho do jornal escolar, O Intervalo, do Agrupamento de Escolas de Pedrógão Grande. A aluna Mónica Baeta do 5º A, escreveu-o pouco antes da autora nos deixar, apresentando a sua vida e obra, pela boca do livros "As Fadas Verdes".

Via RBE

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

IV Conferência Internacional PLANO NACIONAL DE LEITURA



A IV Conferência Internacional do PNL  vai centrar-se sobre o cruzamento entre a leitura e a tecnologia, tema da maior actualidade e pertinência. Serão também abordadas outras questões ligadas à leitura/escrita e alguns dos programas a LeR+.



15 e 16 de Outubro - 9:30h

Fundação Calouste Gulbenkian - Lisboa

Entrada livre

Programa

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Teixeira Gomes – A Literatura de um Presidente









Gostava mais do povo trabalhador do que da burguesia alambicada e egoísta este grande senhor das letras que nasceu numa família rica e poderosa de Portimão em 27 de Maio de 1860… (1)
Em tempos de memórias da Implantação da República, lembrámo-nos de ler e divulgar Manuel Teixeira Gomes, o escritor e o republicano que chegou a Presidente. Elegeram-no em 1923, abandonou o cargo em 1925. Não foi, contudo, o mais breve Presidente nem o único que se dedicou à Literatura. Dos dezoito presidentes que a República Portuguesa teve até hoje, dois outros - Manuel de Arriaga, o primeiro, e Teófilo Braga, o segundo - foram poetas, e Teófilo Braga com vasta obra no campo da poesia e da recolha e crítica literárias.
Teixeira Gomes, não sendo um escritor divulgado nas nossas escolas, é dotado de uma excelente escrita, que, indubitavelmente, agrada aos amantes da leitura. É sensual, gostosa, rica, desenhando personagens surpreendentes, finais inesperados e paisagens que visualmente nos chegam intactas.
Dado que viajou muito e permaneceu no estrangeiro em longas temporadas, por motivos políticos ou de negócio, e também nos dezasseis anos de exílio final da sua vida, conheceu sociedades e paisagens diversíssimas que transportou para os seus escritos: França, Holanda, Itália, Norte de África…
Algumas das suas narrativas mais conhecidas são Maria Adelaide, Novelas Eróticas e Gente Singular (colectânea de contos). A sua obra reflecte a sua personalidade, o seu génio de narrador e as suas experiências de vida filtradas pela lucidez, pelo sentido estético e pelo humor.
Na sua formação, conta-se a frequência do curso de Medicina em Coimbra, de que desistiu, para desgosto do pai, grande proprietário algarvio. Instalado em Lisboa, conviveu com os escritores João de Deus e Fialho de Almeida. Com 39 anos, juntou-se a Belmira das Neves, filha de pescadores, de quem teve duas filhas.
Na política, foi, desde jovem, republicano, tendo colaborado no jornal A Luta, de Brito Camacho. Depois da Implantação da República, em 1910, foi ministro de Portugal em Londres, em Madrid e delegado de Portugal nas Nações Unidas. Em 6 de Agosto de 1923, foi eleito Presidente da República, numa situação governativa extremamente instável, cargo a que resignaria em 1925, alegando motivos de saúde, após o que saiu de Portugal para não mais voltar.
Nas palavras de Teixeira Gomes, a explicação de tão breve governo é elucidativa:

A política longe de me oferecer encantos ou compensações converteu-se para mim, talvez por exagerada sensibilidade minha, num sacrifício inglório. Dia a dia, vejo desfolhar, de uma imaginária jarra de cristal, as minhas ilusões políticas. Sinto uma necessidade, porventura fisiológica, de voltar às minhas preferências, às minhas cadeiras e aos meus livros. (2)

Morreu aos 81 anos, em Bougie, na Argélia.

O dinheiro que tinha consigo chegou à justa para pagar a conta do hotel e as despesas do funeral. Nunca manifestou qualquer desejo respeitante ao seu enterro. Não costumava falar da morte. Por vezes chegou a desejá-la, nas horas de maior sofrimento. O orgulho, porém, vencia nele a dor física – esse indomável orgulho que o fez resignar as funções de chefe de estado, o orgulho que o levou ao exílio, o orgulho que não o deixou voltar a Portugal, o orgulho que o fez morrer longe da família e dos amigos, num quarto de hotel onde viveu dez anos, num desconforto moral arrepiante. (3)

Na pátria, em pleno Salazarismo, aquando da trasladação dos seus restos mortais, em 1950, o funeral de Teixeira Gomes, em Portimão, deu azo a uma grandiosa manifestação republicana.
Se ficou interessado neste autor e na sua escrita, leia as obras Maria Adelaide e Gente Singular, que serão objecto de duas pequenas análises em breve publicadas neste blogue.

Ana Garrido, Carla Diogo e Lina Heitor

(1) Urbano Tavares Rodrigues, "Prefácio" da obra Maria Adelaide
(2) Joaquim Nunes, "Prefácio" Da Vida e da Obra de Teixeira
(3) Norberto Lopes, O Exilado de Bougie


terça-feira, 12 de outubro de 2010

Elogio da Biblioteca (3)

«E você fica com o livro por quanto tempo quiser.» Entendem? Valia mais do que me dar o livro: «pelo tempo que eu quisesse» é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.


Clarice Lispector, Felicidade Clandestina

Elogio da Biblioteca (2)

Faz parte das minhas lendas – como essa de dizer-se que eu sabia o Larousse de cor aos sete anos − atribuírem-me centenas de visões do Johnny Guitar. Num caso como noutro há exageros. Só vi o Johnny Guitar 68 vezes, entre 1957 e 1988. (…)
(…) Como as coisas muito grandes, Johnny Guitar não se explica. Conta-se (vê-se) outra, outra e outra vez como as histórias que se contam às crianças, até que tudo se saiba de cor e se aprenda que tudo está certo nelas. (…)
Quando o bando de Emma entra pelo saloon de Vienna, para a prender, os misteriosos croupiers param as roletas. Enfrentando Emma com o seu terrível olhar, Vienna, sem desviar os olhos dela, dá uma seca ordem: «Keep the wheel spinning, Ed. I like to ear it spin. No fim de cada visão de Johnny Guitar só me apetece dizer aos projeccionistas: «Keep the film spinning. I like to see it spin.» Tanto, tanto.


João Bénard da Costa, Os Filmes da Minha Vida

Elogio da Biblioteca (1)

A miúda fitou-me com os seus olhos azuis, sorriu imperceptivelmente e sentou-se ao piano. Ajeitou a saia à roda do banco e, de mãos imóveis no teclado, apesar do nosso silêncio, esperou ainda pela nossa atenção ou pela sua.
E então eu vi, eu vi abrir-se à nossa face o dom da revelação. Que eram, pois, todas as nossas conversas, a nossa alegria de taças e cigarros, diante daquela evidência? Tudo o que era verdadeiro e inextinguível, tudo quanto se realizava em grandeza e plenitude, tudo quanto era pureza e interrogação, perfeito e sem excesso, começava e acabava ali, entre as mãos indefesas de uma criança. Mas tão forte era o peso disso tudo, tão necessário que nada disso se perdesse, que as mãos de Cristina se estorciam na distância das teclas, suas pernas na distância dos pedais e toda a sua face gentil, até agora impessoal e só de infância, se gravava de arrepio à passagem do mistério. Toca Cristina. Eu ouço. Bach, Beethoven, Mozart, Chopin. Estou de lado, ao pé de ti, sigo-te no rosto a minha própria emoção. Apertas ligeiramente a boca, pões uma rugazinha na testa, estremeces ligeiramente a cabeleira loura com o teu laço vermelho. E de ver assim presente a uma inocência o mundo do prodígio e da grandeza, de ver que uma criança era bastante para erguer o mundo nas mãos e que alguma coisa, no entanto, a transcendia, abusava dela como de uma vítima, angustiava-me quase até às lágrimas. Toca uma vez ainda, Cristina. Agora só para mim. Eu te escuto, aqui, entre os brados deste vento de Inverno.


Vergílio Ferreira, Aparição

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Mário Vargas Llosa - PRÉMIO NOBEL da LITERATURA 2010

Mario Vargas Llosa é o vencedor do Prémio Nobel da Literatura 2010.


Uma distinção que vem reconhecer a vitalidade e qualidade de um autor pertencente a um universo literário, o latino-americano, já com diversos escritores galardoados com o Nobel:

Gabriela Mistral - 1945, Chile

Juan Ramón Jiménez - 1956, Venezuela

Miguel Angel Asturias - 1967, Guatemala

Pablo Neruda - 1971, Chile

Gabriel Garcia Marquez - 1982, Colômbia

Octavio Paz - 1990, México

Mario Vargas Llosa - 2010, Perú

via RBE